A ousadia de trazer ciência de dados para o jornalismo -e vice-versa

JOTA
4 min readDec 17, 2020

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Nem todo mundo que acompanha o JOTA sabe o que tem por trás do perfil de Twitter de respostas sagazes e o site reconhecido no universo jurídico. A verdade é que nós temos expandido o que a gente cobre e como a gente cobre, de forma que estamos aprendendo uma nova forma de fazer jornalismo.

Primeiro, já há alguns anos, não nos atemos apenas à cobertura do Judiciário. Desde que o JOTA foi criado, em 2014, os poderes se misturaram tanto que não é possível mais falar de um sem entender profundamente o que se passa com os outros dois. Nos orgulhamos do nosso DNA jurídico, que afinal foi onde tudo começou, mas é com a cobertura integrada de Judiciário, Legislativo e Executivo que temos chegado à nossa proposta de valor: tornar as instituições brasileiras mais previsíveis a partir da cobertura dos poderes.

Esse alargamento de atuação não aconteceu apenas com o escopo temático, mas também com o nosso modo de produzir conteúdos e produtos. Para além de estratégias de negócio tipicamente usadas na indústria da informação -paywall, conteúdo patrocinado, eventos, newsletters-, entramos de cabeça no universo da tecnologia. Ousamos aproximar os mundos do jornalismo e da ciência de dados e passamos a desenvolver produtos jornalísticos seguindo a lógica de Software as a Service (SaaS), o que nos permite dar escala e uma dimensão quantitativa ao trabalho qualitativo iniciado em campo pelos nossos repórteres.

“Ah, já sei: vocês estão fazendo jornalismo de dados, aquelas matérias com bastante apuração e cheias de gráfico!”, a gente costuma ouvir. Não, não é isso. Jornalismo de dados e ciência de dados são abordagens diferentes, embora possam ser complementares. No jornalismo de dados, os repórteres manipulam grandes massas de dados para encontrar lides e produzir textos. Já na ciência de dados, usamos bases de dados para produzir ferramentas que permitam que o assinante faça um acompanhamento constante de um tema de seu interesse. No caso da audiência do JOTA, desenvolvemos ferramentas que são cruciais para a atividade profissional dos nossos assinantes.

Foi no momento em que trouxemos a ciência de dados para o centro da nossa produção de conteúdo que deixamos de ser uma empresa de jornalismo e passamos a ser uma empresa de jornalismo e tecnologia.

Adaptação de ilustração de Icons 8

Olhando retrospectivamente, esse processo não foi totalmente linear e as causas e consequências que hoje conseguimos descrever nem sempre foram tão claras assim. Mas a introdução da tecnologia como peça-chave neste novo JOTA passou por três grandes movimentos.

  1. Entendemos a tecnologia como um meio e não como um fim
    É muito comum em empresas de jornalismo que o time de engenharia seja tratado como “o pessoal da TI”, um jeito que deixa claro o quanto o universo da tecnologia está apartado da redação. No JOTA, tecnologia é parte do processo. Tentamos ativamente que a empresa como um todo acompanhe o que tecnologia está fazendo e como essas ações impactam na rotina de cada um, dos repórteres ao time de vendas, passando pelo administrativo-financeiro. Nisso, as metodologias ágeis ajudam bastante, uma vez que os valores de transparência e compartilhamento de conhecimento ajudam a quebrar silos.
  2. Internalizamos os esforços de tecnologia
    Em um contexto de orçamento super apertado, vivemos apenas com fornecedores externos por alguns anos. Apesar de termos estabelecido uma relação saudável de parceria com terceiros, esse modelo não sustentaria nossos sonhos futuros pelo simples fato de que tecnologia é tão central no que estamos fazendo que não poderia ser um apêndice na operação. Ela teria que participar de todo o processo estratégico da concepção dos produtos. Se o JOTA queria ser uma empresa de jornalismo e tecnologia, precisávamos começar a contratar engenheiras. Assim, em vez de termos um fornecedor que contratávamos por horas de serviço, passamos a ter uma equipe: CTO, arquiteto de informação, engenheiros de software, de infraestrutura e de dados, engenheira de qualidade.
  3. Adotamos o Ágil
    Nenhuma das nossas entregas de 2020 teria sido possível se não tivéssemos, em janeiro deste ano, adotado a metodologia ágil e passado a promover os seus valores. A natureza complexa dos produtos que estamos desenvolvendo faz com que precisemos de profissionais das mais diversas áreas atuando em colaboração. Num ambiente de times multidisciplinares, é fundamental manter todos alinhados e entendendo o que está sendo feito, compartilhando experiências, decisões e dúvidas. As cerimônias ágeis -dailies, plannings, refinamentos, sprint reviews e retrospectivas- ajudam a dar estrutura para o trabalho fluir. Embora esteja funcionando nas rotinas dos times de produtos, tecnologia e ciência de dados, a metodologia precisa ser reforçada e amadurecida cotidianamente. E ela só faz sentido de verdade se a empresa como um todo estiver adotando seus valores e adaptando as práticas para o contexto de cada equipe. Estamos no caminho.

Ao nos tornarmos uma empresa não só de jornalismo, mas também de tecnologia, nosso horizonte se expandiu. Entendemos que as referências que ajudariam a inovar nossos processos e modelos não estavam mais só no jornalismo, mas principalmente no movimento de startups de tecnologia. Nos abrimos a novos conceitos, topamos trilhar o caminho menos percorrido. Temos aprendido muito desde então e ainda há muito a aprender. Este canal no Medium, o @pordentrodojota, inaugurado oficialmente com este texto, é para compartilharmos um pouco desta trajetória.

Escrito em parceria com Gustavo Pinto e Fernando Mello, diretores de tecnologia e ciência de dados respectivamente, meus companheiros de caminhada no JOTA. Originalmente publicado em https://patygomes.medium.com, em 17 de dezembro de 2020.

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Espaço para contar o que acontece nos times de ciência de dados, produtos e tecnologia do JOTA.